Ela havia repetido, diversas vezes: "não vamos ficar".
Toda essa insistência me deixava em dúvida.
Seu olhar andava demasiadamente apontando para o lado oposto, e olhos não mentem. Jamais. Mas por fim, chegara a noite, a mãe dos desejos.
Ah, aquela porta fechada... ela tentava se camuflar com indiferença atrás de uma frágil porta, que sucumbe à mais sutil das forças - a vontade de abrí-la.
Por trás dessa porta, o som frenético das teclas do computador era o aviso que faltava, e as teclas ainda soariam por mim naquela noite.
comecei:
- o que acha de combinarmos uma cerveja e um cigarro aí no seu quarto?
- que tal na sala?
- nao. prefiro seu quarto. gosto da sua cama.
- porque não na sala?
- pra não deixar a sala fedendo a cigarro
- ok
É claro que não, eu roubaria aquela cama só para ficar agarrado naqueles cobertores.
A porta se abre, eu entro, conversamos menos do que bebemos, mesmo bebendo uma única garrafa. Suas respostas monossilábicas eram a tênue linha que me separavam do monólogo a dois, pelo menos para alguém que não estava ali, como eu, sentindo seus cabelos, e escutando seu corpo estático, me contando verdades que bocas nunca pronunciam.
Ela me abandona por 2 minutos, e volta usando o pijama de sempre, que acentuava ainda mais aquelas curvas que minhas mãos adoravam percorrer, noite adentro, sem destino, andando em círculos.
Não me controlo, e a pego no colo. As mãos começam sua valsa sobre o corpo imóvel, que apenas suspira.
A luz continua acesa, por não saber do que se trata.
Carrego essa dama até a porta, agarrada no meu pescoço, para que ela com seus pés delicados e precisos alcance o interruptor. A noite então se faz presente também para nós, não mais exclusivamente do outro lado da janela. Uma luz suave penetra no quarto e me mostra a cama.
Não trocamos mais uma única palavra. Nem um único beijo. Eu a jogo na cama, arranco suas roupas e as mãos dessa vez deslizam pelo seu corpo inteiro, e eu me aproximo dela só para me embriagar ainda mais com aquela respiração.
Agarro ela com força pela cintura, a deixo de costas e a domino. Entro e saio devagar, para que ela sinta cada detalhe de mim dentro de seu corpo. Encho minha mão com seus cachos e a puxo com força. A única música são seus deliciosos suspiros. Meu suor pinga sobre suas costas, e as gotas correm sem rumo, para frente e para trás, cada vez mais rápido sobre sua pele tão perfeita que parece desenhada. Um tímido gemido acompanha uma chama doce correndo em meu sangue. As gotas dencansam.
Quase desabando sobre a cama, para me juntar a ela, lembro-me de como tudo começou, e de suas monossílabas. Visto minha calça enquanto sinto um olhar fixo querendo me chamar. Não consigo olhá-la nos olhos enquanto digo "vou dormir na sala".
Quando penso em me levantar, ela me toca, e com uma expressão avassaladora me pede um beijo. O primeiro daquela noite, e talvez último.
- não posso - respondo, contra minha vontade.
- porque?
- não podemos ficar, foi o combinado. voce me repetiu isso tantas vezes...
- mas olha o que acabamos de fazer...
- nós sempre fazemos isso...
Sem pensar nas conseqüências, e com minhas mãos já sentindo seu rosto, e seus cachos escorrendo delicadamente entre meus dedos, me aproximei e nos beijamos desesperadamente, como quem se despede para sempre.
O sempre, porém, nunca esquecerá essa noite.
(sonhei isso um dia)